SETEMBRO

DOUGLAS MENEZES

Tenho obsessão por setembro. Mês da minha chegada. Claridade nunca a apagar. Tempo de fazer memória, de sentir orgulho no desfilar garboso do civismo incerto, sem convicção já desconfiando de uma independência que ainda não se tornou real.

Tanto tempo passado numa comemoração distante da maioria. Povo de cara triste. Gente magra, amarela, a olhar um desfile que não contemplava uma verdade verdadeira. O sete já me incomodava, já me fazia refletir sobre uma emancipação capenga, injusta e feita só para alguns milhões e não para todos aqueles que construiam no sacrifício cotidiano um arremedo de nação, nunca plenamente, até hoje,a poder ser chamada de país de todos. Uma maioria enganada sempre. Alguém duvida?

Setembro de tanta flor, de tanto jardim, de tanta luz, de tanta cor, de tanto corpo bonito a desfilar nas praias, a insuflar desejos, a me dizer dessa mistura que aqui existe para perpetuar a gente colorida, que se faz bonita nos batuques, nos gingados do quase samba a dizer do amor que é setembro.

Mês de se fazer sensual como o molejo das morenas, negras e louras, e dos meninos já homens a cultuarem a força masculina como deuses gregos.

Setembro do meu começo. Nódoa a escorrer no ato estranho e solitário, companheira inerte, verde na paisagem verde. Um aprendizado de um nunca esquecer, antes do contato humano da vizinha a ensinar, aula sem palavras, apenas setembro como testemunha, num azul silencioso de um quintal de goiabas, jenipapos, carambolas e laranjas-cravo.

Setembro sempre, ano após anos, décadas, dias, avivando a memória já um pouco distante. Setembro a trazer de volta a vida da primavera sem chuva e o cheiro ativo do jasmim do meu oitão.

IMAGEM GOOGLE

Deixe um comentário